Vampiro - A Máscara
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O que poderia ter sido e não foi. Ou: Um predador improvável

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Mensagem por Mark O'Grady Seg Out 28, 2013 8:42 am

Mark decidiu passar o restante da noite no Hotel Fairmont, pois não estava seguro se a Lobisomem voltaria à casa dele. Quase desistiu de se hospedar quando viu a balbúrdia criada na portaria pela entrada de bombeiros, pois havia acontecido um pequeno incêndio num dos quartos. Ele ficou esperando dentro do carro, perto do Hotel, até as coisas se acalmarem. Seus pensamentos giravam. Ele sentia uma certa "fome", uma ânsia. "Virei então um predador? Como vou predar com pouca força física e nenhuma habilidade em luta corporal? Meu Deus, isto é mesmo uma maldição!".
Foi no instante em que o carro de bombeiros deixou o local que Mark se lembrou de que a professora Claire Delacroix, que havia se tornado sua amiga e parceira sexual de ocasião durante uma investigação que ambos fizeram sobre Lobisomens, morava no Hotel Fairmont.
Ele deu entrada no hotel assim que o pessoal da portaria liberou a volta dos hóspedes do andar incendiado para seus quartos. Sentou-se na cama do quarto e pensou se deveria ter ido para o cemitério. "Será que eu não tenho de estar num caixão quando o dia amanhecer?", pensou. Sem refletir muito no que estava fazendo, ligou para o celular de Claire. No início da conversa, ela não se mostrou satisfeita com a ideia de Mark ir visitá-la. Na noite em que acamparam na Reserva Indígena, ela percebeu que Mark desejava mais do que amizade e sexo, mas não estava disposta a assumir compromissos. Mark precisou insistir um tanto para convencê-la de que desejava contar a respeito de uma nova descoberta que havia feito sobre criaturas sobrenaturais, e nada além disso. "Nada mesmo?", pensou consigo enquanto seguia no elevador até o andar dela.
Ela o recebeu com um beijo no rosto, como se recebe um bom amigo. 
- Você está um pouco pálido, Mark. E seu rosto está frio... Muito trabalho?
- É, estou num projeto novo..., desconversou.
Ele estava longe de sentir-se frio. No instante em que os lábios dela o tocaram, viera-lhe o desejo. Mas já não se tratava de desejo sexual, embora parecesse haver um simulacro de erotismo naquela ânsia. Ela ofereceu bebida, mas ele recusou com uma pontada de repulsa que surpreendeu a si mesmo. Enquanto ela estava de costas servindo-se de vinho, Mark mirou suas formas e sentiu um movimento involuntário na boca. Seus lábios inferiores foram espetados pelos caninos de cima, que cresceram como os de Lucian.
Ele arregalou os olhos de susto e levantou-se de chofre dizendo que precisava ir ao banheiro, antes que ela se virasse. Mirou-se no espelho e ficou pensando em como devolver os dentes ao seu tamanho normal. Mas bastou se acalmar um tanto de nada para recolocá-los no lugar, num movimento que ele não sabia como tinha feito, mas que foi tão natural quanto esticar ou encolher o braço. Voltou para a mesa onde ela agora estava bebericando e sentou-se de frente para ela. 
- Claire... Você descobriu a existência de monstros bem antes de mim. Você já tinha visto um Lobisomem quando eu lhe conheci, mas não me revelou nada até que eu mesmo visse um deles. Se você não contou ao mundo o que sabia, deve ter sido pelo temor de perder sua credibilidade acadêmica ou até de ser vista como louca.
Ela confirmou acenando brevemente com a taça, dando ao professor ensejo para continuar.
- Bem, eu não sei como os monstros fazem isso, mas o fato é que eles são muitos, e conseguem esconder sua existência tão bem que ninguém acredita neles.
Ele começou a hesitar em seguir adiante. Já não tinha certeza se tinha feito a coisa certa em procurá-la. Ela se pôs a ficar intrigada e curiosa com aquela hesitação. Previu que ele tinha coisas realmente importantes para contar.
- Vá em frente, Mark. Não seja tímido, disse ela com um sorriso meio malicioso, interrompido por um pequeno gole de bom vinho.
"Sim, eu acho que sempre fui tímido demais para conquistar alguém como ela", pensou com um pequeno tanto de frustração. "Agora, preciso deixar de ser tímido para...".
- Hã, está bem... Olha, não há só Lobisomens no mundo, Claire. Há outros monstros, e já nem me atrevo a imaginar a variedade deles.
Ele contou a ela rapidamente a aventura que tivera naquela noite. Que a Lobisomem que eles conheceram no Hell’s foi atacá-lo em casa e que foi salvo por um homem com poderes mágicos. Ela começou a ouvi-lo com expressão muito séria e curiosa quando ele descreveu os poderes do sujeito. Depois, ele narrou a conversa que tivera com Lucian, mas tomando o cuidado de não dar nenhum detalhe que permitisse a ela saber de quem se tratava ou de onde aquilo havia acontecido.
- Então, quando eu estava a sós com o tal sujeito, bem... ele me disse que era um Vampiro e que há muitos como ele no mundo. 
Ele hesitou novamente ao ver que a expressão dos olhos de Claire havia assumido um quê de apreensão e nervosismo. O corpo da bela mulher se descolou do encosto da cadeira, mas ele não sabia dizer se ela já adivinhava o que devia ter acontecido com ele ou se estava apenas tensa à espera do desfecho da história. 
- Ele me fez ter um sonho. Aquele mesmo sonho que eu tenho desde os treze anos, e de que lhe falei na noite em que acampamos na Reserva. Tive assim a confirmação de que não se trata de alucinações ou fantasias induzidas por arquétipos culturais, conforme cogitamos ao falar sobre o assunto. Era meu destino voltar e voltar até ser vítima da mesma maldição que eu devia ter combatido e não o fiz.
Ela cerra o cenho e afasta a cadeira da mesa.
- Você foi amaldiçoado por um vampiro? Está me dizendo que você agora é também um monstro?
Mark sorriu numa mistura de ironia amarga e admiração. "Ela sempre foi de pegar as coisas depressa...".
Seguiu-se um silêncio pesado, até que ela se levantou lentamente e deu alguns passos de costas, em direção à porta. Ele começou a esfregar as mãos uma na outra e procurou falar logo.
- Eu jamais atacaria você, Claire. Na verdade, eu não quero atacar ninguém. Mas, se o fizer para me alimentar, não será contra alguém que só me desperta amizade, admiração e até algo mais. Por favor, confie em mim e volte a sentar-se.
Ela assim o fez, mas mantendo os braços cruzados e o corpo longe da mesa. 
- Eu sinto sede, Claire, e não vou mentir: ela está maior diante de você. Eu preciso de um pouco de sangue, mas não quero tomá-lo à força. Pensei em lhe pedir ajuda. 
- Você ficou louco, é?!
- Você sabe que eu sou uma boa pessoa. Mesmo tendo me tornado um monstro, tentarei agir como a pessoa que sempre fui. Imagine que você está fazendo uma doação de sangue para um amigo doente. E será uma doação só, eu lhe juro! Depois eu vou me virar, de algum jeito. 
Era óbvio que ela não gostou da ideia. Quem gostaria? Levantou-se de repente, fazendo Mark acreditar que ela chamaria alguém pelo interfone naquele instante. Claire pôs-se a andar de um lado para o outro, a expressão contrariada, fazendo perguntas e objeções. Mark sentia-se apreensivo e seu rosto mostrava isso. Ele devia ser o predador, mas agia como alguém que corre perigo e tem medo de ser denunciado por aquela que poderia ajudá-lo. Ela objetou que, se ele a mordesse, passaria a ela a mesma maldição.
- Na realidade, não. Enquanto eu via as imagens bem conhecidas do meu sonho repetitivo, sentia o sangue do sujeito escorrendo pela minha garganta. Foi aquele sangue que disparou o sonho, creio eu. Concluí que fui transformado por beber o sangue dele, não por ter sido drenado. 
- Isso tudo é um absurdo...
- Ameaçada de morte por um Lobisomem, você saiu à caça de conhecimento sobre essas criaturas, em vez de recolher-se assustada. E, veja bem, esta nossa coversa lhe trouxe também conhecimento sobre coisas que quase ninguém no mundo deve saber. Eu sei que você não gosta de ocultismo, mas eu sou a prova de que existem reencarnação, maldições e vampiros. Basta apenas que você guarde segredo sobre isso, como fez com os licântropos, e estará segura. Eu não lhe prometo contar mais coisas sobre vampiros no futuro, pois também não sei o quanto me será dito. Ainda assim, o conhecimento que você ganhou hoje é para poucos. E o que lhe peço em nome da nossa amizade e dos conhecimentos que revelei é uma, digamos, transfusão... 
O comportamento humano é difícil de explicar. O homem é um fenômeno até para si próprio, afinal. E um daqueles fenômenos que nunca têm uma causa só. Por que ela acabou concordando? Tinha medo de morrer, sim. Sentiu pena de Mark, sim. Temia sentir dor, sim. Confiava nas palavras dele, sim. Queria ajudar um amigo, sim. Sentia uma ponta de culpa por não ter correspondido ao afeto dele, sim. Desejava conhecimento, sim. Adorava experiências novas, mesmo que arriscadas, sim. Ela é um espírito livre que gosta de usar o próprio corpo para experimentar liberdade, sim.
Sentaram-se na cama frente a frente. Ela estava um pouco trêmula e seus olhos se arregalaram ligeiramente quando viu os caninos de Mark saltarem. Ele virou o rosto para o lado, com vergonha, embora o desejo de cravar os dentes nela estivesse mais forte do que nunca. Por que não pensaram em derramar o sangue numa taça? O comportamento humano é difícil de explicar, sobretudo quando envolve riscos. Com respiração um tanto ofegante, ela segurou o queixo dele suavemente e virou-lhe o rosto para encará-lo nos olhos.
- Você promete mesmo que não vai me fazer mal, e que será a primeira e última vez, certo?
- Eu juro, minha quer... hã, sim, Claire. Pode ter certeza.
Ficaram sem palavras. Mark suavemente afastou aquele cabelo comprido tão bonito para trás do pescoço de Claire. Seus lábios roçaram o pescoço e ele não pôde se furtar a beijá-lo antes que seus caninos o perfurassem. Quando o líguido quente lhe despertou a volúpia, enlaçou-a com os braços e, num impulso, deitou-a na cama e ficou sobre ela enquanto bebia sangue. Ela manteve as costas retas num primeiro momento, resistindo ao empurrão, mas depois cedeu. O prazer que ele sentiu foi muito intenso, fazendo-o temer ir longe demais. Ela, como havia acontecido com ele mesmo antes, cerrou os dentes e segurou um grito de dor. Mas logo a dor transformou-se no prazer do beijo.
Quando acabou, o amanhecer estava próximo.
Mark O'Grady
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